ECONOMIA | 31.07.2025
Os nove riscos-chave para a economia mundial em 2025
A economia global enfrenta um 2025 cheio de incertezas e desafios. Desde o aumento da dívida e a persistente inflação até os efeitos das mudanças climáticas e as tensões geopolíticas, os riscos são diversos e profundos.
O relatório Panorama econômico e setorial 2025: perspectivas para o segundo semestre, elaborado pela MAPFRE Economics e editado pela Fundación MAPFRE, faz um balanço dos riscos mais relevantes que poderiam impactar a estabilidade econômica global.
- Risco financeiro e dívida global
Um dos principais riscos identificados é o elevado nível de endividamento público e privado, que supera 256% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Esse aumento, observado tanto em economias avançadas quanto em mercados emergentes, foi exacerbado pela elevação dos rendimentos dos títulos governamentais de longo prazo. Nos Estados Unidos, o rendimento do título de 10 anos alcançou níveis históricos, encarecendo o serviço da dívida e pressionando as finanças públicas. Esse cenário se agrava com políticas monetárias restritivas que buscam conter a inflação, mas que dificultam a sustentabilidade da dívida: quanto mais altos os juros, maior o aumento dos custos da dívida.
- Guerra comercial e protecionismo
A política protecionista dos Estados Unidos por meio da imposição de tarifas visa reduzir o déficit comercial e, ao mesmo tempo, aumentar a receita do governo. Espera-se que o custo dessas tarifas seja assumido, em parte, pelos consumidores e, em parte, pelos fabricantes. O objetivo de reduzir o déficit comercial não é fácil de atingir, já que muitos produtos importados não podem ser fabricados nos Estados Unidos, ou só com um custo muito mais elevado. No entanto, espera-se que, em determinadas indústrias, como a do aço ou a automobilística, seja possível mobilizar parte da produção para o país.
- Inflação
Houve avanços significativos na redução da inflação global, com a maioria das economias avançadas mostrando quedas sustentadas nos índices de preços. No entanto, a meta de 2%, estabelecida por muitos bancos centrais, tem se mostrado mais difícil de alcançar. Dados recentes indicam um ligeiro aumento na inflação em algumas regiões, gerando preocupações sobre a persistência das pressões inflacionárias.
- Política monetária e estabilidade financeira
Os bancos centrais dos países do G7 iniciaram um ciclo de redução das taxas de juros, impulsionado pelos avanços no controle da inflação. A exceção é os Estados Unidos, que mantiveram as taxas em 2025 à espera de avaliar o impacto das tarifas. Uma inflação mais persistente e a elevação dos rendimentos dos títulos governamentais aumentam o risco de que governos e setor privado precisem refinanciar suas dívidas a taxas mais altas; um financiamento mais caro reduz a demanda por crédito e, portanto, leva a menores níveis de investimento e atividade econômica.
- Cenário geopolítico
No panorama geopolítico, após os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas, o petróleo chegou a atingir máximos de cinco meses, embora, com o cessar-fogo (precário e sem grande negociação), o petróleo Brent tenha voltado à faixa dos 70 USD/barril. Além disso, os conflitos em Gaza e na Ucrânia seguem sem solução e continuam sendo dramas humanos, ainda que a economia do restante do mundo siga seu curso. Aparentemente, a Europa conseguiu encontrar fontes alternativas ao gás e petróleo russos, embora não esteja claro se continua a comprá-los indiretamente em parte. Outro aspecto a ser observado é a crescente influência dos BRICS, que defendem uma redução gradual do uso do dólar nas transações internacionais.
- Tensão financeiro-imobiliária na China
O setor imobiliário chinês enfrenta desafios significativos. As vendas de novas residências caíram e os preços das propriedades seguem em queda. Algumas previsões indicam que as vendas podem cair 12% em 2025, resultando em uma desvalorização significativa dos imóveis. As dificuldades no setor imobiliário chinês podem afetar tanto a economia nacional quanto a estabilidade financeira global. Essas tensões no mercado imobiliário aumentam o risco de inadimplência da dívida entre as incorporadoras, o que pode repercutir no sistema bancário devido à significativa exposição das instituições financeiras ao setor.
- Mercados imobiliários
Nos mercados desenvolvidos, o setor residencial demonstrou resiliência, com aumentos significativos nos preços dos imóveis. No entanto, o setor imobiliário comercial e de escritórios enfrenta desafios relevantes tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. A pandemia acelerou tendências como o teletrabalho, reduzindo a demanda por espaços de escritório e elevando as taxas de vacância. Além disso, o aumento dos rendimentos dos títulos públicos encareceu os custos de financiamento imobiliário, o que pode impactar negativamente a valorização dos imóveis e aumentar o risco de instabilidade financeira.
- Riscos da IA
A inteligência artificial (IA) representa uma ferramenta com um enorme potencial para o crescimento econômico global, mas também introduz riscos significativos para a estabilidade financeira e social. Nos mercados financeiros, o uso de algoritmos de trading automático gerou preocupação por sua capacidade de ampliar a volatilidade em períodos de estresse. Estes algoritmos, projetados para executar transações em frações de segundo, podem desencadear reações em cadeia que agravam quedas dos mercados, como já ocorreu em eventos como o flash crash de 2010. A falta de supervisão e transparência na programação desses algoritmos poderia intensificar esses riscos, especialmente se interagirem com outros fatores de instabilidade econômica.
- Mudanças climáticas e desastres naturais
O impacto dos desastres naturais continua sendo um risco significativo. Em 2024, as temperaturas globais atingiram um aumento sem precedentes de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais, o ano mais quente já registrado até agora, o que provocou perdas econômicas globais por catástrofes naturais de 320 bilhões de dólares, dos quais apenas 145 bilhões estavam segurados. Esse aumento intensificou fenômenos como ondas de calor, ciclones e inundações, ressaltando a necessidade urgente de medidas de adaptação.
Conclusão
O balanço de riscos em 2025 apresenta um panorama complexo e desafiador para a economia global. Os altos níveis de dívida, as tensões geopolíticas, os efeitos das mudanças climáticas, a persistente inflação e a incerteza nos mercados financeiros são fatores que exigem atenção especial por parte de governos, instituições financeiras e agentes de mercado. A cooperação internacional, a implementação de políticas eficazes e a adaptação às novas dinâmicas globais serão essenciais para mitigar esses riscos e garantir uma estabilidade econômica sustentável. Nesse contexto, a arte de negociar e a capacidade de se adaptar a um ambiente em constante mudança tornam-se ferramentas fundamentais para enfrentar os desafios do futuro.
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